segunda-feira, 1 de abril de 2019

Na estrada, no depósito e no estaleiro. O mastro reencontrado

À espera do caminhão: o Araruna, desmastreado, amanhece
na Marina Pier 26, em Guarujá SP
Depois de algumas postagens dedicadas a explicar de onde veio nosso amor pela vela, retomamos aqui o fio da meada interrompido quando perdemos o mastro do Araruna, no litoral paulista, e tivemos de voltar pra casa de avião, deixando o barco na Marina Pier 26, de Guarujá. Mal podíamos imaginar que a viagem do Araruna por via rodoviária, até o Rio Grande do Sul, seria tão ou mais aventurosa (ou desventurada) do que o trajeto marítimo.

Contratamos um caminhoneiro para buscá-lo, cientes (e ademais alertados pelo pessoal da marina) de que a ausência do proprietário na operação de içamento e embarque representava um risco adicional à integridade da embarcação (aquele ditado sobre o "olho do dono", conhecem?) Mas não havia remédio, não tínhamos como estar lá.

Mas deu tudo certo nessa etapa, e o caminhão seguiu seu rumo pela estrada, até ser parado pela Polícia Rodoviária Federal, já no sul de Santa Catarina. Ao que tudo indica, o veículo não tinha as credenciais para fazer esse tipo de transporte, já que o barco carregado ultrapassava a largura máxima permitida. Este, então, teve de ser descarregado num depósito, em Tubarão. Passados uns dois meses e diversos telefonemas entre nós e o proprietário do depósito, ele mesmo gentilmente nos conseguiu um frete "de volta" - um caminhão que voltaria ao RS vazio, e portanto cobraria um preço bastante em conta para trazer o barco. Dentro da lei, desta vez.

E assim, o Araruna veio a se tornar praticamente uma atração turística, na bucólica cidadezinha de Picada Café, na antiga região colonial gaúcha. Estacionado no amplo pátio de uma loja de material de construção, lá permaneceria por longos meses, ao longo dos quais recebeu uma reforma no casco, com a troca da plataforma de popa, e pintura completa. Para ser franco, o Ingo fez praticamente tudo sozinho, com suas lendárias habilidades de marceneiro e a ajuda do seu fiel escudeiro Fernando. Fiz umas duas ou três visitas, pra ajudar.

No meio disso tudo, meu sócio ainda encontrou tempo para fazer uma excursão, convencido de que conseguiria encontrar e resgatar o mastro perdido. Num dos dias mais frios da história, em julho, ele e o Fernando atravessaram a serra de Santa Catarina coberta de neve e chegaram a Santos, num dia de ressaca. Lá chegando, foram direto à praia do Perequê, onde encontraram quase todos os pescadores em terra. O plano era esquadrinhar as imediações do local onde o mastro havia afundado (marcado no GPS), com um espinhel de anzóis grandes, previamente preparado para a missão. Ocorreu que o primeiro sujeito que eles abordaram, em busca de um barco para alugar (péssima ideia num tempo ruim), após ouvir a história respondeu que conhecia o tal mastro, que ele mesmo tinha pescado com sua rede de camarões, a qual depois de um trabalhão ficou inutilizada.

Lá se tocaram para a casa do cara, em cujo pátio encontraram o mastro sobrevivente, com as velas infelizmente bem danificadas, sem utilidade a não ser como retalhos para algum remendo futuro. Eles não queriam cobrar pelo resgate, mas para compensar a gentileza e o prejuízo com a rede o Ingo se ofereceu para comprar dele um motor Volvo usado, que estava ali dando sopa,  por um preço bem em conta. Era parecido com o do Araruna e viria a ter utilidade para reposição de peças. Fechado o negócio, foi necessário aguardar mais algum tempo, até que um caminhão a serviço de nossos amigos lajeadenses passasse por lá, para fazer o transporte. O mastro ainda fez uma escala em Osório, no camping da Pinguela, onde nosso amigo Irno tem um trailer. De lá, seria levado diretamente a Porto Alegre, para o Niels refazer o estaiamento.

No próximo capítulo, o Araruna fará o percurso contrário: a tão sonhada viagem de barco até Santa Catarina.

3 comentários:

  1. "Ocorreu que o primeiro sujeito que eles abordaram, em busca de um barco para alugar (péssima ideia num tempo ruim), após ouvir a história respondeu que conhecia o tal mastro, que ele mesmo tinha pescado"... que loucura!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Foi assim q ele me contou, mas talvez tenha exagerado um pouquinho hehehe.

    ResponderExcluir