terça-feira, 28 de março de 2017

As origens IV - O Júlia

O Júlia vai se aproximando de Itapuã. Reparem o pau de
spinnaker de bambu feito em casa. Janeiro 2012.
Com a volta de Jorge para Lajeado, ele e o Irno (outro colega nosso de turma no colégio) colocaram em ação o plano mais ambicioso de todos: construir um veleiro de aço de 36 pés. O "canteiro de obras" foi instalado no pátio da casa do Irno, e consumiu muitas chapas e dias de trabalho, mas acabou abandonado ainda no casco, e vendido.
Logo, Ingo e Jorge compraram um 23 pés, o "Júlia", em Tapes (do qual o Irno tornou-se sócio honorário). Nele o pessoal teve oportunidade de aprender um pouco mais na prática sobre a vela de oceano. Ano passado, o barco foi levado em cima de um caminhão para Florianópolis, onde ficou sob os cuidados do Alemão Carlos, atualmente residindo por lá, bem próximo do mar na Baía Sul.

As Origens III - O Malacara

O Malacara no seu melhor habitat: a Lagoa da
Pinguela (1997)
Somente no final dos anos 1980 é que tivemos um novo salto de qualidade nessa função de barco. Em 1989, Jorge e eu voltávamos a compartilhar nosso apartamento de estudantes em Porto Alegre, depois de passarmos uma temporada trabalhando no interior. Um belo dia, ele encontrou um veleiro usado à venda, nos classificados do jornal. Fomos olhar e logo fechamos negócio. Era um 470, o Malacara I, que nos daria muitas alegrias Guaíba afora. Classe olímpica, duas velas, com trapézio (aquele negócio que faz um sujeito ficar pendurado do mastro por um cabo de aço, fazendo contrapeso para o barco não virar), outro papo. E não apenas no Guaíba, pois viajou também de reboque algumas vezes até as praias de Santa Catarina (Bobinhas, mais precisamente). Lá, fizemos belas travessias com ele, de Bombinhas até Itapema e de Bombinhas até Santo Antônio de Lisboa (em 6 horas).

Mais tarde, com a volta de Jorge para Lajeado, seu uso foi se reduzindo. Andou um tempo no estaleiro em Estrela, em garagens em Lajeado. Reabilitado, passou veraneios na Lagoa da Pinguela, em Osório, e acabou voltando à capital em 2005, quando me associei no SAVA, onde está ainda hoje, mais no seco que na água. Passei a convidar outros parceiros, já que o barco exige um mínimo de 2 tripulantes: Zeca, Rômulo, Segala, Xico, Carlos, Ricardo, Isabela, Moyses e o Bruno, o que mais andou comigo. Alguns debutaram na vela.
Pela falta de tempo, infelizmente, o Malacara não foi pra água este verão. Mas tá em condições... Isto é, mais ou menos. Flutuando eu garanto.

domingo, 12 de março de 2017

As origens (II)

O Magnum 422
O mesmo Ingo (que conheci na postagem anterior, como vocês recordam) algum tempo mais tarde, ganhou dos pais um pequeno veleiro, um Magnum 422 e, mais ou menos na mesma época, se a memória não me engana, o Paulo - um vizinho do Ingo que não era nosso colega de escola, mas foi logo integrado à turma, comprou um Hobie 3.9. Daí em diante, os barcos a remo ficaram meio relegados, afinal para que a gente ia se matar remando se podia velejar sem fazer esforço.

Um Hobie 3.9
De fato, não era bem assim. Quem já velejou (em barcos sem motor) sabe que não é raro o vento acabar e você (na falta de remos a bordo, o que geralmente é o caso) ser obrigado a deitar de bruços na proa do barco e remar de volta ao porto de partida... com os braços. O Rio Taquari, aliás, não era um local muito apropriado para a vela, devido às barrancas altas em muitos lugares, que "protegem" um pouco o leito do rio do vento. Em caso de cheias, também tinha a correnteza forte e perigosa. Mesmo assim, serviu perfeitamente para nossos primeiros "passos".

Desde então, circulavam entre nós os maravilhosos livros de velejadores mais ou menos malucos que se aventuravam mundo afora: Joshua Slocum, Geraldo Tollens Linck, Roberto Mesquita de Barros (o Cabinho), Thor Heyerdahl, Amyr Klink (que mais tarde alguns de nós chegaríamos a conhecer pessoalmente, em Parati)... De forma mais ou menos consciente, sonhávamos em fazer algo parecido um dia, um dia distante. E íamos aprendendo o que dava, ao menos na teoria. Aquele vocabulário cheio de bujas, escotas, gaiútas, adriças, bolinas... Mas o tempo ia passando e estávamos sempre ocupados ganhando a vida, criando os filhos e outras coisas mais...

Araruna, as origens: descobrindo o rio e o remo

No tempo do meu avô Nicolau (aquele, com o cigarro na boca), o Taquari na
altura de Lajeado era mais divertido, mas não navegável para barcos
de maior calado
Eu deveria narrar agora a realização, no último Carnaval, pelo Araruna, de um antigo sonho, compartilhado entre alguns velhos amigos: viajar de veleiro até Santa Catarina. Mas senti falta de, antes, tentar explicar de onde veio este sonho ou, nas palavras de um amigo, "como meia dúzia de alemão da colônia chegaram a gostar tanto de mar e veleiros".
Pois tudo começa (para mim) em 1978, quando nos primeiros dias do 1o. Ano do Auxiliar de Escritório (hoje Ensino Médio) eu vim a conhecer o Ingo, nosso novo colega. Ele havia ganho, no seu aniversário ou no Natal, uma "regata",  barco a remo de dois lugares, similar a um caiaque, mas de fundo chato, feito de compensado naval, tinindo de novo em sua pintura azul e branca. Perguntou se eu sabia nadar e, diante da resposta afirmativa, me convidou para uma remada no Rio Taquari.
O Taquari ficava a cerca de um quilômetro da minha casa, mas mesmo assim eu nunca tinha ido até sua margem, já que para nadar tinha a piscina do clube. Ademais, nesta altura o rio é fundo, desde que foi represado pela Barragem de Bom Retiro do Sul, e não tem praias a não ser bem mais acima, já fora de Lajeado. Mas claro, antes da barragem, esse trecho era cheio de corredeiras, impróprio para navegar.
E lá fomos nós, andando e carregando o tal barquinho até a rampa, no Bairro Carneiros. Na água, ele era instável, e só neste primeiro dia viramos quatro vezes. Não, não usávamos coletes salva-vidas. Mas com a prática, logo íamos adquirir um maior equilíbrio e inclusive aprender a reembarcar dentro dágua, mas neste dia tivemos de trazê-lo de volta à margem a cada "virada".
Desnecessário dizer que aquilo virou minha principal diversão, principalmente (mas não só) no verão. A piscina do clube foi quase esquecida)
Em breve, outro colega nosso, o Jorge - que tal como o Ingo tinha em casa uma oficina de marcenaria bem equipada - construiu ele mesmo outra regata semelhante. (Caiaques de fibra ainda eram raros - e caros - por ali). Não demorou muito, alguém teve a ideia de colocar um mastro de taquara e uma vela triangular de algodão, feita com algum lençol velho, em cima delas, mas não havia jeito de equilibrar aquilo em cima da água. O jeito então foi unir as duas, por meio de uma estrutura de madeira, altamente elaborada e fixada como extensores ("aranhas"), construindo assim... um catamarã, geringonça que não só chegou a funcionar mas superou nossas expectativas. Isso até um temporal terminar com a nossa alegria.