quarta-feira, 24 de abril de 2013

De Paraty a Bertioga: finalmente navegando

Prontos para a partida
Acordamos pela primeira vez com a maior auto-confiança, de quem comprou um motor novinho em folha. Ingo improvisou um suporte na popa para ele, com parafusos auto-atarraxantes, que no primeiro teste quase foi para o fundo do mar com motor e tudo. Já tínhamos até nos despedido do Luiz e companhia, com direito a foto. Aliás, o Luiz tinha visto aquela gambiarra e alertou que não ia funcionar. Dito e feito. Pagamos o mico de voltar ao trapiche, trocamos os parafusos por outros, com porca, agora sim. Esse motor só ia ser desligado quase vinte e quatro horas mais tarde. Na hora de embarcar, foi a minha vez de escorregar com o chinelo de dedo (evite usar isso a bordo de qualquer embarcação) e bater a canela na plataforma de popa. Mergulhei na água, não sei bem como, inutilizando o celular, na pior hora possível.

Adeus, Paraty
O vento variava de fraco a inexistente, mar tranquilo. Curtimos um belo por de sol, seguido de uma belíssima lua cheia. A parte inesquecivelmente ruim era um fio de água que entrava por um buraco no espelho de popa, causado pela infiltração ao redor de uma vigia mal instalada pelo antigo dono, e remendado provisoriamente pelo Ingo.

Chegando à Ponta da Joatinga
Se fosse só água, até que eu não me importava, o pior é que ela passava pelo compartimento do motor, “lavando” os restos de óleo, que carregava para baixo do assoalho da cabine. Passamos a viagem nos revezando na remoção dessa água, procurando evitar que ultrapassasse o nível do assoalho (que ficaria emporcalhado e escorregadio como o diabo), com pano e um balde que ia e vinha do convés para a cabine e vice-versa.

Respirar o cheiro de diesel agravava o enjôo, então a cada tanto era necessário sair correndo e ficar uns dez minutos no convés, respirando ar fresco, para se restabelecer. Como o vazamento era acima da linha dágua, variava conforme a direção das ondas e a velocidade do barco, chegando a parar por vezes, dando uma trégua.

Já era noite quando passamos a Ponta da Joatinga. Depois de ajustar o rumo no piloto automático, Ingo desmaiou lá na cabine de proa, e fiquei no comando. Ele tinha traçado um trajeto por fora da Ilha de São Sebastião, ainda longe, mas como agora aproveitávamos um pouco de vento pela popa, foi ficando meio desconfortável, aquela coisa da retranca trocando de lado volta e meia, com um soco. Desviar uns graus a bombordo resolveria, mas nos afastaria mais ainda de terra. Além disso, o lado de fora da ilha era bem deserto e, quando a deixássemos pela manhã, ficaríamos muito distantes da costa no trecho até Bertioga, embora a distância total fosse menor, razão pela qual Ingo havia escolhido esse trajeto.
Amanhecer no canal de Ilhabela
Atraído pelas luzes da civilização, que me transmitiam alguma segurança, como marinheiro novato, decidi mudar de bordo e de rumo, rumando canal adentro, isto é, passando entre ilha e continente. Logo, antes de clarear o dia, fui recompensado com um terral, que me fez obrigou a desligar o piloto automático e pegar o leme na mão. Era o melhor vento até então, mesmo tendo durado pouco. O receio do Ingo em passar por ali era o tráfego de navios, mas estava bem tranquilo àquela hora.

Almoço a bordo
Acabou sendo uma boa escolha, mesmo que tenha aumentado um pouco a distância. Linda paisagem, ainda mais com o dia nascendo, animando a tripulação. Para completar nossa alegria, depois do café Fernando pescou nosso almoço.

Após deixar a ilha para trás, atravessamos a longa baía numa bela manhã de sol, praticamente só no motor, e ao chegarmos em Bertioga o Bruno já nos aguardava por lá. A barra do canal não tinha sinalização, mas a profundidade era boa, fomos avançando devagarinho sem sustos até ancorar, pertinho da margem esquerda, um pouco à montante do cais da barca que faz a travessia rodoviária. A alegria de termos conseguido chegar com segurança era ainda maior do que a de zarpar, mal cabia em nós. Para o Fernando, era um batismo de mar.

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