quinta-feira, 25 de abril de 2013

De Bertioga até perder o mastro

Lua cheia sobre Bertioga, ao fim da tarde
Chegando em Bertioga, era preciso reabastecer, para o que foi necessário encher o inflável, fixar nele o outro motor de popa, menor, subir motorando canal acima, até um posto, dentro de uma marina, na margem direita do canal, ou seja, na Ilha de Santo Amaro. Depois de embarcado Bruno, novo tripulante, e sua bagagem, mais alguns mantimentos; e desembarcado o Fernando, que voltaria a Paraty de ônibus para buscar a camionete, partimos no final da tarde da quinta-feira, 25 de abril, data que nunca mais esqueceremos.

O vento, pela primeira vez, começava a refrescar, prometendo uma velejada de verdade. Já estávamos cogitando desligar o motor quando, na metade do caminho até Santos, o mastro tombou para boreste, fazendo um barulhão que nos deixou apavorados. Um ou dois estais tinham se rompido, ao que parecia; ou não estavam bem fixados. Princípios de pânico a bordo.

O barco balançava um pouco, devido ao peso do mastro, e nosso maior medo não era de todo sem fundamento, o de que a cruzeta furasse o casco, batendo nele com o balanço do mar. Mas pouco provável, analisando friamente agora, aqui no meu apartamento sequinho e que não balança. De qualquer forma, era impossível prosseguir daquele jeito. Estávamos a uma distância segura da costa, mas se derivássemos na sua direção, empurrados pelo vento, podíamos bater na Ilha do Arvoredo, uma ilhota a pouco mais de um quilômetro de onde estávamos, defronte à Praia de Perequê.

Entrei na cabine, coloquei o colete salva-vidas e alcancei outros para os colegas. O rádio, sem o mastro, no alto do qual estava sua antena, não funcionava. Fizemos contato por celular com a marinha, não sei quem tinha ou como descobrimos rapidamente o número. Bruno e eu chegamos a ligar os dois ao mesmo tempo, tão atarantados estávamos. Soubemos pela Marinha que havia um naufrágio de verdade acontecendo ali perto, e só poderiam nos ajudar depois de socorrer as seis pessoas a bordo da embarcação que afundava.
É óbvio que na hora que o mastro caiu ninguém se lembrou de tirar fotos.
Desembestei a soltar sinalizadores. Dois, daqueles de para-quedas, falharam. No escuro, eu não conseguia ler as instruções, mesmo de óculos. Um facho funcionou. Por ignorância, soltei um fumígeno, que só se usa à luz do dia, quase não se vê à noite. A situação não era, em resumo, tão apavorante; os marujos é que eram novatos. O motor funcionava, o barco não fazia água (depois que Ingo reforçara aquele remendo no espelho de popa). Mesmo assim, sem pensar muito, optamos por soltar do convés os estais que restavam, desprendendo o mastro totalmente, com retranca, velas, adriças e tudo o mais. Livres daquele incômodo, fizemos meia volta e fomos motorando de volta, dormir em Bertioga, para pensar no que fazer no dia seguinte. Ainda choque, mas abobadamente felizes por estarmos vivos. Embora houvéssemos marcado com o GPS o local exato do sinistro, por incrível que pareça ninguém teve a ideia de amarrar no mastro qualquer coisa que flutuasse, permitindo assim que pudéssemos resgatá-lo facilmente no futuro.

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